Denis da Silva, mestre da equipe do Devachan Salon by Deva Concepts, de Nova York, é especialista em cabelos encaracolados e uma autoridade no assunto. Já que as ondas estão mais na moda do que nunca, o Portal Cabeleireiros.com entrevistou o profissional, que foi muito além de tudo aquilo que você já sabe sobre o assunto.
Portal Cabeleireiros.com: Qual a diferença entre cabelo afro e cabelo cacheado?
Denis da Silva: Vou explicar de uma forma bem lúdica. Quando falamos do formato do fio, podemos comparar o cabelo cacheado a um macarrão espaguete. Ele é arredondado. Já o cabelo afro se assemelha a um talharim, é mais achatado, e por isso mais seco e com mais dificuldade de segurar seu condicionamento natural, o que representa 10% da composição do cabelo. Os outros componentes são a proteína, que responde por 89% da estrutura capilar, e o mineral, com apenas 1%.
Portal: Ao que se deve a volta com tanta força dos cabelos naturais e cacheados?
Denis: Nos anos 1980, o permanente era top na moda hair. A partir de 1992, começou a decair, mesma época em que o alisamento aumentou e assim permaneceu até 2007 e agora já demonstra fortes sinais de cansaço. Agora a mulher entrou em uma fase de aceitação, de preservar a individualidade e oferecer o que tem. Defendo a ideia de que houve uma marginalização do visual natural pelo próprio cabeleireiro, uma vez que o profissional se formou e aprendeu muito do que sabe na época em que o liso absoluto era o hit e também pregou o conceito de classe, onde os fios lisos eram sinônimo de status.
Portal: E quais fatores ajudaram nessa guinada de pensamento?
Denis: Nos EUA essa transformação foi embalada por um conceito espiritual, quando, em 2000, as profecias de fim do mundo não se concretizaram e permitiram que as pessoas se curtissem mais, relaxassem e se aceitassem. Também há o fator ambiental, que tem engajado cada vez mais pessoas. As clientes se preocupam com a composição do produto, buscam alternativas mais saudáveis ao próprio corpo e ao meio ambiente. Com isso, o cabeleireiro foi aprendendo a lidar e trabalhar com o cabelo natural e, desse modo, abriu uma porta e ensinou às clientes a beleza contida no natural.
Portal: E para aquelas que tem os cabelos lisos e querem cacheá-los, o que você recomenda?
Denis: Tenho certeza de que as lisas artificiais vão pedir a seus cabeleireiros para voltarem ao natural. Faço uma campanha em favor de quem tem os cabelos naturais o preservem dessa maneira! Gostaria muito de que as pessoas promovessem aquilo que elas têm. Esse novo fôlego dos cabelos cacheados terá um crescimento firme, mas gradual, não terá o mesmo boom que teve o alisamento. Acredito que a técnica do permanente se reinventará e aparecerá com uma fórmula diferente que fará muito sucesso. Nada no mundo, até hoje, rendeu mais dinheiro aos cabeleireiros do que o permanente. Acho interessante que os cabeleireiros fiquem de olho nisso.
Portal: Você acha que os cabeleireiros, por conta deste aprendizado viciado nos cabelos lisos que você mencionou, ainda têm uma visão manchada dos cabelos naturais?
Denis: Sim. Muitos cabeleireiros, inclusive, dizem que os fios naturais não geram lucro. Se isso fosse verdade eu não teria clientes no meu salão, uma vez que a Deva defende o cacheado e ondulado. A carteira de clientes do salão em que trabalho é de 65 mil clientes, e a cada ano conquistamos uma média de 8 mil novas freguesas. Gosto dessa ideia de darmos confiança à mulher ser o que é. Uma mulher com cabelo afro e cacheado, quando bem tratado, sempre é alvo de perguntas a respeito do que fez para mantê-lo daquela forma, e é assim que ela propaga nosso salão e traz novas clientes.
Portal: Qual sua perspectiva em relação a essa volta do natural?
Denis: Acredito que, em 5 anos, pelo menos 50% da população volte aos cabelos naturais.
Portal: E quais as tendências para os cabelos cacheados no próximo verão?
Denis: Cabelos compridos, mas sem um volume exagerado, como os da Taís Araújo vêm fortíssimos. Na área de coloração, as luzes e reflexos que reforçam a textura dos fios também são uma aposta certeira. Já os acessórios, como fitas e outros enfeites devem ficar de fora da produção.
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