Ter um negócio de sucesso vai muito além de possuir as melhores técnicas, comprar equipamentos modernos, alugar ou comprar um ponto competitivo e conquistar uma clientela cativa. É importante manter os funcionários motivados, que saibam os diferenciais do negócio e se sintam parte dos resultados positivos ou negativos conquistados em cada mês. Mas, quais são os maiores desafios para administrar, com excelência, a sua equipe?
Com exclusividade para o portal Cabeleireiros.com, quem dá as dicas é Vera Cavalcanti, consultora da GC-5 Soluções Corporativas, professora convidada da Fundação Getulio Vargas nos programas de MBA e autora do livro Liderança e Motivação, da Editora FGV. Confira!
Cabeleireiros.com: Quais são os maiores desafios na gestão de pessoas?
Vera Cavalcanti: O desafio crítico dos gestores é a necessidade urgente de assumir novas responsabilidades, que devem estar voltadas não apenas à superação das metas organizacionais, como ao desenvolvimento de pessoas e de novos líderes. O principal desafio na gestão de pessoas é mudar o modelo mental daqueles que têm a responsabilidade de levar os colaboradores a alcançar resultados organizacionais, de maneira motivada e comprometida. Somente uma postura inspiradora, orientadora, centrada na transferência de conhecimentos e experiências torna possível desenvolver talentos, habilidades individuais e autonomia dos subordinados. O século 21 denuncia um déficit de líderes capacitados para lidar com os desafios contemporâneos.
Cabeleireiros.com: O que é fundamental para um bom líder?
Vera Cavalcanti: Os líderes precisam conhecer a direção para onde sopram os ventos da mudança, além de possuir os recursos, a tecnologia e os modelos que os apoiam para chegar lá. No entanto, em muitos casos, ainda estão apegados aos pensamentos, sentimentos e valores dos modelos do passado pertencentes à chamada “era do insubstituível”.
Cabeleireiros.com: O que há de novidade em técnicas para gerenciamento?
Vera Cavalcanti: A abordagem do coaching vem sendo gradativamente incorporada às técnicas gerenciais como um bom recurso para desenvolver o protagonismo do colaborador a assumir a responsabilidade por sua vida e carreira. O coaching é um processo focado em ações do colaborador para a realização de suas metas e desejos. Ações no sentido de desenvolvimento e/ou aprimoramento de suas próprias competências, aprimoradas por meio de ferramentas, conhecimento e oportunidades para se expandir. A disciplina Líder Coach está ganhando cada vez mais espaço nos programas de MBA das universidades.
Cabeleireiros.com: Como proporcionar um ambiente colaborativo, e não competitivo por natureza?
Vera Cavalcanti: Despertar o senso de equipe, de colaboração e de apoio mútuo precisa fazer parte da bagagem comportamental de qualquer gestor, assim como levar o colaborador a experimentar o senso de pertencimento à organização e à equipe. Para isso, torna-se essencial que o gestor construa a visão compartilhada do futuro que quer atingir com sua equipe. Ele deve comunicar a ela o seu “sonho”, o ponto de chegada e, principalmente, por meio de suas práticas gerenciais, ser exemplo do que diz acreditar e querer conquistar. Com isso, o gestor está dando norte e sentido ao trabalho das pessoas, envolvendo-as e levando-as a se unirem em torno de um propósito comum, percebendo a importância do papel e contribuição de cada um para um todo que é maior do que as partes, minimizando as diferenças individuais e a competição destrutiva.
Cabeleireiros.com: Como fazer o feedback da maneira correta?
Vera Cavalcanti: O feedback é um importante alimento corporativo, pois desempenha o papel de informar ao outro sobre como o seu comportamento está impactando, positiva ou negativamente, o processo de trabalho e de convivência. O feedback objetiva encurtar a distância entre o comportamento “ideal”, ou seja, esperado pela organização, e o “real”.
Pela sua importância e efeito voltado ao crescimento e desenvolvimento de pessoas e equipes, torna-se necessário considerar as duas etapas que devem fazer parte do feedback: preparação e realização.
Etapa de preparação:
- Identificar a atitude de quem vai dar o feedback: qual é a sua verdadeira intenção;
- Ter uma visão abrangente da situação a ser trabalhada: procurar ter fatos e dados que possam apoiar a conversa, caso o feedback seja corretivo;
- Preparar-se para o feedback mantendo sentimentos positivos e foco no resultado;
- Encontrar o seu próprio estilo de dar feedback para sentir-se à vontade e criar um ambiente de espontaneidade e criatividade na busca de soluções conjuntas.
Etapa de realização:
- Garantir a privacidade do encontro;
- Informar ao outro o objetivo da conversa;
- Concentrar-se na questão a ser trabalhada, informando a situação/comportamento “indesejado”;
- Ouvir o outro;
- Discutir a forma adequada de agir;
- Identificar eventuais dificuldades;
- Colocar-se à disposição para apoiar a superação das dificuldades;
- Encerrar e agradecer.
Embora o feedback seja uma importante ferramenta gerencial, outra abordagem vem sendo apresentada para apoiar e provocar mudanças comportamentais. Estamos falando do feedforward.
Para as ciências cognitivas e comportamentais, feedfoward é um método de aprendizagem que leva o indivíduo a criar a visão do futuro que quer alcançar e quais são as ações necessárias para ele chegar lá. Ou seja, enquanto a prática do feedback se baseia em situações passadas e na busca de justificativas para o comportamento “indesejado”, o feedfoward aponta para o futuro, para aquilo que a pessoa pode ser ou se tornar.
Embora utilize do feedback a busca do fato passado a ser superado ou aprimorado, não se prende a buscar justificativas, mas sim, pensar que ações podem ser realizadas para mudar aquele comportamento. Afinal, é mais produtivo ajudar as pessoas a acertar do que provar que estavam erradas.
Tanto o feedback como o feedfoward motivam a pessoa a desenvolver-se, mas por razões diferentes. No primeiro caso, a motivação é suprir uma falha ou carência e adequar-se àquilo que os outros esperam. No segundo, a motivação é concretizar algo que a pessoa deseja para si mesma e que faz sentido para ela, tornando-se protagonista do seu processo de mudança.
Cabeleireiros.com: Quais habilidades devem ser necessárias para alguém ser gestor?
Vera Cavalcanti: As mudanças ocorridas na metade do século 20 trouxeram grandes reflexos na maneira de olhar a dinâmica e o funcionamento das organizações. Cada vez mais sabemos que as habilidades não acadêmicas, como inteligência emocional, inteligência social, inteligência positiva e foco sobrepõem aspectos cognitivos e intelectuais no desempenho de gestores, negociadores e líderes. Competências e aptidões pessoais como autocontrole, empatia e persuasão tornaram-se fatores decisivos no desempenho profissional.
Hoje, não cabem mais o apego exagerado aos controles, rigidez hierárquica e disciplinar e centralização de decisões. Cada vez mais, a liderança deve ser transformadora e não mais transacional, quando se negocia esforço e hora trabalhada por salário/recompensa, extraindo do trabalho todo o seu conteúdo de realização e comprometimento individual e coletivo. Frases como “não ganho para isso” refletem bem a postura do modelo transacional de liderança.
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